Como já é de costume, comemoramos no dia 16/10, 4ª f., o dia do professor e do funcionário. Neste ano preparamos um Recital de Viola com Otávio Monteiro em homenagem aos nossos queridos professores e funcionários. Foi emocionante vê-los encantados com a arte do jovem músico!
A alegria da música
Eu gosto muito de música clássica.
Comecei a ouvir música clássica antes de nascer, quando eu ainda estava na
barriga da minha mãe. Ela era pianista e tocava... Sem nada ouvir eu ouvia. E
assim a música clássica se misturou com minha carne e meu sangue. Agora, quando
ouço as músicas que minha mãe tocava, eu retorno ao mundo onde moram a
perfeição e a beleza.
A palavra alienação vem do latim e quer
dizer “que pertence a um outro”. A música produz alienação: ela me faz sair do
meu mundo medíocre e entrar num outro, de beleza e formas perfeitas. Nesse
outro mundo eu me liberto da pequenez e picuinhas do meu cotidiano e
experimento, ainda que momentaneamente, uma felicidade divina. A música me faz
retornar à harmonia do ventre materno. A música produz silêncio. Faz-se
silêncio porque a beleza é divina. Ouvir música é oração.
A música clássica dá alegria. Há
músicas que dão prazer. Mas a alegria é muito mais que prazer. O prazer é coisa
humana, deliciosa. Mas é de onde moram as coisas do tempo, efêmeras, que
aparecem e logo desaparecem. A alegria, ao contrário, é das coisas eternas que
permanecem. Superior ao prazer, a alegria tem o poder divino de transfigurar a
tristeza.
Há músicas que contêm memórias de
momentos vividos. Trazem-nos de volta um passado. Lembramo-nos de lugares,
objetos, rostos, gestos, sentimentos... Lembrar-se do passado é
triste-alegre... Alegre porque houve beleza de que nos lembramos. Triste porque
a beleza é apenas lembrança... Não mais existe. Mas há músicas que nos fazem
retornar a um passado que nunca aconteceu. É uma saudade indefinível,
sentimento puro, sem conteúdo. Não nos lembramos de nada. Apenas sentimos.
Sentimos a presença de uma ausência...
Há músicas que nos levam para o tempo
“antes de nós mesmos” e para lugares onde nunca estivemos. “Temos dois ouvidos.
Com um ouvimos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro
ouvimos as coisas da alma, eternas, que permanecem.”
A música tem virtudes médicas. Cura.
Nesse tempo em que todo mundo sofre.
Bom seria se a música clássica se
ouvisse nos consultórios médicos, nas escolas, nas fábricas, nos escritórios,
nas rádios. A música clássica desperta, nas pessoas, aquilo que elas têm de
melhor e de mais bonito. Música clássica contribui para a cidadania.
Fico triste pensando naqueles que nunca
conhecerão esse prazer. Simplesmente porque a possibilidade não lhes foi
oferecida. Eu tive a sorte de ter a minha mãe.
Adaptado de Rubem Alves
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